27.2.23
Lá por volta de 2010, eu comecei a ler sobre minimalismo para além de uma filosofia de consumo, mas também como uma filosofia de vida. Era interessante constatar que, apesar de um movimento ainda underground, o principal objetivo do minimalismo era bem tangível: viver com pouco, se preocupar menos. E, para uma mente ansiosa como a minha, tudo aquilo fazia um sentido enorme. Ser minimalista era muito mais do que ter apenas 5 pares de meia e contabilizar todas as suas bolsas: era viver mais intensamente experiências, já que te sobrava tempo e dinheiro por consumir menos.
Só que ter uma filosofia minimalista ao mesmo tempo de um transtorno mental pode ser bem difícil. Muitas vezes, o ato de comprar pode ter um efeito tão catártico que era cegamente sedutor. Comprar podia ser tão sedutor quanto qualquer outro vício: o efeito durava pouco, e logo você precisava consumir de novo, só para sentir-se bem. E, dizer que a minha vida era um vem e vai entre consumo desenfreado e minimalismo era certeiro.
Um vem e vai entre comprar desenfreadamente, mesmo as coisas que eu não precisava. Ou que eu já tinha, mas que podiam quebrar e eu queria ter uma substituição à mão. Este último, para mim, era o suprassumo do poder do consumismo: pra quê ter apenas dois socadores de alho, se você pode comprar um terceiro para caso seus dois socadores de alho quebrem no meio de um feriado onde você precisa muito socar alhos por alguma razão?
O consumismo também desvirtua experiência simples que refletem muito na constante social. Porque, para quê eu teria três socadores de alho, se caso meus dois socadores quebrem eu posso apenas pegar um emprestado? Consumir desenfreadamente cessa com a interação social e a interdependência entre as pessoas. E é aqui que trago uma reflexão: será mesmo que é tão melhor assim ser completamente independente de tudo e todos?
O minimalismo não se importa que você teve um ano ruim onde comprou demais. Ele sempre está lá, de braços abertos, para que você possa voltar. E eu decidi voltar.
Foto de Pure Julia na Unsplash.
Decidi deletar minhas redes sociais.
O Instagram era uma grande armadilha. Parecia inofensivo, ou até mesmo, que se não fosse inofensivo era culpa sua, por seguir as pessoas erradas. Ah, mas é apenas tóxico porque você o deixou ser tóxico. Que grande lorota. Não importa se eu entrasse apenas para postar foto de comida, sempre ia ter alguma coisa acontecendo que me deixava triste. Ou ansiosa. O mundo do Instagram é cruel, inóspito e extremamente tedioso.
O Twitter era uma fonte de reclamações. E eu continuo sendo a pessoa mais reclamona da face da Terra. Mas também criava o vício do feed, onde você ficava rolando eternamente e atualizando a cada cinco minutos na esperança que de algo mais interessante que a sua própria vida estivesse ali, pronto para ser consumido.
O Tik-tok era o próprio horror. Eu podia gastar intermináveis horas rolando o feed e consumindo informações que, de verdade, em sua maioria eram vazias. Indicações de livros que eu nunca li porque esqueci de baixar (de tanta informação consumida em tão pouco tempo, o pouco relevante é facilmente descartado) até notícias que na verdade eram grandes fake news disfarçadas de conteúdo.
A grande verdade é que não importava qual era a rede social. Eu sempre acabava gastando um tempo enorme consumindo um conteúdo de pouco valor, que nãome satisfazia em nada no final, e que me fazia perder um tempo que eu poderia estar fazendo coisas que eu realmente gosto. E no final do dia, eu sempre ficava com a sensação de que devia ter priorizado outras coisas. Então doeu. Dói. Alguns dias eu reativo por alguns minutos só para perceber que eu estava certa antes. Eu não fui feita para redes sociais.
Ou talvez, eu só esteja velha e reclamona.
Foto de Milad Fakurian na Unsplash.
20.8.20
Acho que o que mais me incomodou na coisa toda foi o final apressado. Uma hora eles estavam brigando como gato e rato, com toda aquela tensão sexual acumulada, o dilema "conto-ou-não-conto-que-temos-um-filho-juntos" e do nada o rapaz já está forçando a mocinha a um casamento não consentido, que apesar de não querer, ela não faz nenhum, repito, nenhum esforço para desfazer.
Acho que quando leio um romance que já começa em angst, eu espero que a razão para que os protagonistas não fiquem juntos seja satisfatória, até o climax onde esta razão deixa de ser uma razão e tudo se resolve. Mas o problema aqui é que esse climax não acontece de fato, apenas parece que do nada, o protagonista dá um 180 nas suas convicções pessoais e resolve ir de solteiro cobiçado a noivo neurótico.
Eu não sei. Talvez mais umas poucas vinte páginas e esse desenvolvimento me soasse mais convincente. Ou talvez eu apenas esteja amargurada demais para um romance tão simples.
Talvez esse seja o ponto. É um romance simples. E só.
21.6.20
29.4.20
Como tendo a gostar muito de livros e séries que analisam a mente criminosa, pensei que podia dar uma chance a esse livro, e que poderia acabar gostando. Pouco depois descobri que, na verdade, ele é uma fanfic de One Direction reescrita para ser um livro (Crepúsculo feelings), mas de forma alguma isso tira o mérito, se há, desta obra.
Então o que eu devo falar sobre esse livro? Eu admiro a autora por retratar assuntos que dificilmente a sociedade aceita que mulheres falem sobre, como sexualidade, bdsm, relacionamentos abusivos e necessidade feminina de libertação da estrutura patriarcal. Porém, se o livro ganha o leitor pela intensidade da narrativa e os diversos plot twists em relação aos personagens secundários; perde o fôlego ao exagerar nas cenas violentas, que muitas vezes não tem o porquê de acontecer.
Como eu escrevi em "Objetos Cortantes", um livro que fala sobre violência não pode se abster de descrever a violência, porém também não pode cair no erro de retratá-la como algo banal que não existe razão para acontecer. É uma das minhas maiores críticas a série "Game of Thrones" também: se a violência existe na narrativa para sustentar/desenvolver/mudar um personagem, ela funciona; quando ela acontece por acontecer, ou para chocar o expectador, e logo depois é tratada como se não tivesse ocorrido, ela não funciona. E foi essa a sensação desse livro também: ele explora muito bem a violência, mas lá pela metade a banaliza, e tira o prazer que teríamos ao ler tais cenas e tomá-las em um contexto.
Mas e o romance? É um relacionamento abusivo. Simples assim. No fim têm-se uma expectativa de redenção do personagem masculino, mas ela não acontece por completo. Isso porque dá-se a entender que o livro terá continuação (e para quem está se perguntando, a fanfic teve continuação também). Se eu leria a continuação? Sim. Mas com expectativas menores talvez.
28.2.20
Eu acho que tudo que critiquei no último livro deveria ser escrito em um papel para que eu engula e aprenda a não julgar um autor por um único livro.