
October 03, 2020
Sobre Ter Corona Vírus
Começou com o diagnóstico da minha avó.
Eu tinha ido vê-la no sábado, porque ela estava doente e aparentemente os médicos da emergência não tinham muito o que fazer. Era para ser uma visita de despedida, eu sabia muito bem. Por isso arriscamos furar a quarentena. Mas no fim, ela tinha corona vírus, e passou para todos que a visitaram naquele dia. Ninguém tinha como saber, afinal, os médicos da emergência haviam diagnosticado apenas uma gripe. Mas no domingo ela internou com falta de ar e oxigenação baixa. Imediatamente todos nós começamos a também fazer quarentena, obviamente. E na segunda, como quem não quer nada, bem devagarinho, os sintomas começaram a surgir em mim e no meu marido.
Neste momento, abro um parêntesis para falar sobre o pânico que você tem ao saber que está com uma doença que pode te matar. E ao mesmo tempo que você quer ajuda, você não deve pedir ajuda até que esteja doente o suficiente. Na madrugada de terça acabamos indo ao hospital, porque eu estava desenvolvendo febre e falta de ar. Minha oxigenação estava em 90%.
Parece bastante, mas a OMS classifica isso como grave. Eu e meu marido fomos separados dos outros pacientes, e passamos por várias medicações e exames. Neste meio tempo, um dos médicos começa a fazer umas perguntas que divergem um pouco do diagnóstico de covid normal: você está sentindo dor no ventre? Anda fazendo muito xixi?
Antes que eu pudesse entender muito bem eu fui separada do meu marido e ele teve alta. Uma moça muito simpática disse que teria que fazer um teste de covid com um cotonete enorme que praticamente cutuca seu cérebro. Depois, ela tirou sangue arterial com uma agulha gigante. Eu sou uma pessoa relativamente tranquila para exames com resistência alta à incômodos, mas tudo aquilo era demais. Eu só me lembro de soluçar e segurar o cateter de oxigênio contra o meu rosto.
Eu fui internada poucos minutos depois.





